Como fazer a iniciação no andebol?
Essa pergunta vem sempre à nossa mente quando não conhecemos bem a modalidade. Para essa dúvida, quase sempre temos uma válvula de escape: fazemos do andebol profissional o modelo que copiamos na iniciação. É como se tirassemos uma foto de um jogo de alto rendimento e com base nela, organizássemos todo processo de ensino do andebol. Veja embaixo uma foto de um jogo profissional. O que identificam num jogo de andebol?
Ataque contra Defesa:
Como vês o andebol?
Identificamos, geralmente:
Um jogo de 6×6 no qual os Guarda-redes devem ficar nas suas áreas e os jogadores de linha confrontando-se no campo em si, totalizando 7 jogadores de cada lado.
A equipe que defende procura montar uma barreira em volta da área protegendo a sua baliza para não sofrer golos;
A equipe que ataca fica à frente da barreira, procurando uma forma de arremessar a bola e fazer golo.
Mediante essa imagem fotográfica, da modalidade vejam que interessante, com base nisso, ensina-se aos jovens atletas que logo depois de atacar, eles devem montar uma barreira próxima à linha da área para assim proteger o golo, enquanto que quando atacam eles devem vencer a barreira adversária.
Será essa a verdadeira dinâmica do jogo de andebol?
Pensemos na sua lógica: para vencer o que uma equipe deve fazer?
A resposta parece fácil: "Não sofrer golos" – realmente não sofrer golos é bom, mas isso não garante a vitória, pois posso não sofrer golos e também não marcar golos, logo, não venço, apenas empato.
Vamos para uma segunda opção: "Fazer golos" – realmente fazer golos é um bom caminho, mas mesmo que eu faça 10 golos num jogo, posso sofrer 11 golos, logo, apenas fazer golos não me garante a chance de vitória.
Ao pensarmos a lógica do jogo, não basta jogarmos apenas para fazer golos, nem mesmo focar as nossas acções para não sofrer golos, pois a única forma de conquistarmos uma vitória é "fazer mais golos do que sofrer".
Com base nessa afirmação, temos finalmente o caminho para a vitória revelado.
Vejam que, fazer golos é o principal objectivo, porém, sempre em relação ao número de golos sofridos. Logo, devemos pensar numa forma de coordenar as nossas acções para que possamos colocar a lógica do jogo em prática.
Ofensivamente, cumprir a lógica segue um caminho simples (mas de difícil execução): ao ter a bola não posso desperdiçar nenhuma oportunidade de marcar.
Mas, é defensivamente que está o grande segredo: A defender a que é que devo dar prioridade? Proteger o alvo? Impedir a progressão adversária? Recuperar a posse de bola?
Retornemos à Lógica do Jogo de andebol: devemos fazer mais golos do que sofrer.
E qual é a forma de uma equipe se comportar para conseguir essa vantagem quando está a defender?
Proteger a baliza garante para a equipe fazer mais golos que o adversário? Impedir a progressão adversária garante essa vantagem? Não, pois em nenhuma das hipóteses traçadas teremos algo essencial para ser fazer mais golos do que sofrer: ter a posse de bola.
Logo, a única forma de conseguir essa vantagem é defender para fazer golos.
Esta afirmação parece estranha não é? Como assim, defender para fazer golos? Não defendo para evitar golos? A resposta é NÃO.
Quando trazemos uma visão "parcial" do andebol com base naquela foto que tiramos do jogo profissional para as aulas de iniciação, estamos a dar prioridade à protecção da baliza como forma de funcionamento do jogo, logo, passamos a defender para não sofrer golos. Assim montamos uma barreira e ficamos á espera que o adversário erre (ou um passe, ou um lançamento, cometendo uma infracção como dar passos, bola no pé, etc..).
Essa postura, no entanto, não garante à equipe que defende algo importantíssimo para vencer: conquistar a posse de bola, pois quem apenas protege a baliza está dependente da ineficácia adversária para vencer. Uma equipe assim só vencerá se o adversário errar.
Ao tentar proteger a baliza , quase sempre não somos suficientemente eficientes e acabamos por sofrer alguns golos e só recuperamos a posse de bola depois dos golos sofridos, ou como já dito, dependendo da ineficiência adversária, algo que num jogo mais difícil não podemos nos dar ao luxo de esperar que aconteça.
Para poder cumprir a lógica do jogo de andebol uma equipe deve dar prioridade á tentativa de recuperar a posse de bola, sempre, pois somente com a bola é que se pode fazer golos.
Logo, quando afirmo que a função da defesa é fazer golos, regulo-me nessa visão: a defesa deve sempre procurar recuperar a posse da bola, pois assim une-se numa acção, a possibilidade de manter a proporção de mais golos a favor, do que golos contra, uma vez que recuperando a posse de bola a equipe deixa de sofrer um golo e tem a oportunidade de marcar, adquirindo a vantagem de 1 golo a seu favor.
Já haviam pensado nisso? Que a função lógica da defesa é FAZER GOLOS?
Então, se a defesa deve procurar fazer golos, ela não pode ser passiva, sobre a forma de uma barreira estereotipada do andebol profissional.
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Digo estereotipada pois no andebol profissional a "barreira" não é simplesmente uma barreira. Ao analisarmos um jogo de rendimento veremos constantes acções defensivas verticalizadas, cujo objectivo é a tentativa da recuperação da bola. Mesmo em defesas que se deslocam prioritariamente de forma horizontal, verificamos que ela retarda tanto a acção ofensiva que impossibilita o ataque de finalizar uma bola em boas condições, recuperando a posse da bola com base numa finalização mal feita pelo adversário. A defesa procura sempre recuperar a posse de bola.
A acção da defesa, sobretudo na iniciação com crianças, momento no qual as acções colectivas ainda não são maduras a ponto de serem utilizadas, deve ser baseada na acção táctica individual pautada pela procura da recuperação da posse de bola, orientando para as fases iniciais de aprendizagem a utilização de defesas individuais pressionantes o que favorecerá defensivamente à recuperação constante da posse de bola e a maturidade ofensiva de desmarque, das movimentações sem bola e busca de espaços vazios – acções tácticas elementares para se jogar bem ofensivamente o andebol.
Se tiverem oportunidade de assitir a jogos de equipes mais novas (sobretudo, escolares) e equipes mais velhas, verifiquem como as "barreiras" se comportam. Observem como essas barreiras obrigam as equipes que atacam a se comportar. Analisem se a mesma lógica de jogo está apresentada nesses dois tipos de andebol.
Acredito que a conclusão será a seguinte:
Em equipes mais novas joga-se defensivamente para não sofrer golos.
Em equipes mais velhas joga-se defensivamente para se recuperar a posse de bola (seja criando dificuldades para finalizar – com lançamentos desequilibrados ou pressionados pelo jogo passivo -, seja antecipando uma linha de passe ou mesmo provocando erros adversários) fazendo da defesa uma forma de se fazer mais golos do que sofrer.
Até a próxima,
Estou de acordo com o conceito: "Defender para fazer golos". Claro que no 3*3 esta atitude é praticamente natural. Penso no entanto que na iniciação paralelamente trabalhava a postura individual (posição baixa, perna à frente, deslocamentos laterais,...) e o posicionamento face ao adversário (distância,...), com grande intensidade e velocidade. Nesta fase o primado deve ser do 1contra1.
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